O que dizem os especialistas

O que dizem os especialistas

Testemunhos da comunidade médica e científica.

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António Vaz Carneiro

De entre os componentes mais prevalentes da dieta, tem sido o leite (de vaca) alvo de uma série de comentários negativos, que surpreendem até pela sua violência. Mas que evidência científica de boa qualidade e com impacto clínico existe que confirme (ou não) estas convicções?

Como temos afirmado inúmeras vezes, a saúde é um dos campos onde provavelmente os mitos e as crenças mais se encontram enraizados. Dentro desta, é a nutrição a área onde as invenções e os erros mais se acumulam. E é uma pena, porque existe excelente evidência científica sobre os aspectos de segurança e risco dos componentes da dieta normal, assim como dos padrões de alimentos para doentes com patologias específicas (diabetes, hipertensão, etc.).

De entre os componentes mais prevalentes da dieta, tem sido o leite (de vaca) alvo de uma série de comentários negativos, que surpreendem até pela sua violência – quase parecendo uma cruzada – claramente desajustada ao problema específico. Aumento do risco de cancro, de diabetes, de fraturas osteoporóticas, de esclerose múltipla e de problemas cardiovasculares são apenas exemplos dos malefícios atribuídos a este componente da dieta. Mas que evidência científica de boa qualidade e com impacto clínico existe que confirme (ou não) estas convicções? 

Em primeiro lugar, é importante reconhecer que, para poder-se estabelecer um nexo de causalidade entre um factor de risco (neste caso a ingestão de leite) e um problema de saúde (seja uma doença, um sintoma, um sinal, etc.) temos de possuir um estudo experimental, em que selecionámos ao acaso um conjunto de pessoas, dividimo-las aleatoriamente em dois grupos (um bebe leite regularmente e o outro não) e analisamos no tempo os indicadores clínicos que achamos importantes (aumento do cancro, de eventos cardiovasculares, etc.). Estudos que apenas comparam pessoas que bebem leite com as que não o bebem na sua vida normal (chamados estudos observacionais) são válidos, mas não permitem concluir com a mesma certeza a relação eventualmente encontrada entre o leite e potenciais doenças. Isto porque pode haver outras causas para essas doenças, sintomas, etc. que nada tenham a ver com a ingestão de leite. É importante reconhecer que todos estes estudos – independentemente do tipo - procuram representar, em grupos limitados de doentes (as chamadas amostras), uma realidade potencialmente existente em toda a população de onde aqueles foram selecionados, já que não é possível estudar toda a gente.

Um dos mitos levantados contra o leite é o da sua potencial relação com o cancro. Que provas existem de esta relação ser verdadeira? Numa revisão sistemática da literatura recentemente publicada (Nutrition Journal 206;15:91) foram analisados 11 estudos incluindo um total de 778.929 doentes procurando determinar se havia alguma relação entre o consumo de produtos lácteos e a mortalidade por causas oncológicas. As conclusões destes investigadores foi que, quer com a ingestão de leite de vaca, quer de iogurte, de queijo ou de manteiga não se verificou qualquer aumento da mortalidade de cancro em ambos os sexos. A única excepção foi um muito ligeiro aumento de cancro da próstata, mas apenas com leite gordo. Baseados nos resultados destes estudos permitem, portanto, afirmar que a ingestão de leite de vaca não influencia em nada o risco de mortalidade global por cancro.

A segunda área da saúde em que o leite tem sido questionado é o da obesidade e risco cardiovascular. Também aqui não se confirmam estas crenças: numa revisão sistemática canadiana incluindo um conjunto de 21 outras revisões – uma espécie de síntese de sínteses (Advances in Nutrition 2016;7:1026-40) - não se detectou qualquer aumento de risco cardiovascular, concluindo os autores que o consumo regular de vários tipos de lacticínios é neutro ou mesmo favorável na saúde do coração. Curiosamente, uma revisão sistemática da Cochrane (considerada universalmente como a melhor prova científica disponível sobre benefícios e riscos de uma qualquer intervenção) indica uma melhoria marcada no risco cardiovascular com a ingestão da dieta mediterrânica que, como é sabido, é composta por um rácio alto de gorduras monoinsaturadas versus saturadas, ingestão regular de vinho, elevada de legumes, gramíneas, cereais e fruta/vegetais, baixa de carne e significativa de peixe, e consumo moderado de leite e de produtos lácteos (Cochrane Database of Systematic Reviews 2013, Issue 8. Art. No.: CD009825). Quanto à obesidade, os resultados da ingestão de lacticínios são contraditórios quer se trate de adultos, em que a taxa de obesidade pode aumentar ligeiramente (Ann Epidemiol 2016;26:870-882), quer em crianças, onde parece diminuir (Eur J Clin Nutr 2016;70:414-23).

Portanto, baseados nestes estudos selecionados pela sua alta qualidade metodológica, não parece justificar-se o receio da ingestão de leite e o risco destas doenças. É ainda importante lembrar que os riscos que temos estado a mencionar são de muito modestas dimensões: no caso do aumento do cancro da próstata por exemplo, o que estamos a falar é centenas de homens beberem leite diariamente para se verificar um cancro a mais durante anos a fio. Finalmente, e à guisa de lembrança, há que reconhecer que a eliminação de componentes da dieta pode ter consequências negativas, já que podem fazer falta ao desenvolvimento harmonioso nos jovens ou à manutenção de uma boa qualidade de vida nos adultos.

 

Artigo publicado na revista Visão, dia 6 de Março de 2018

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Pedro Carvalho

A alimentação tem um papel indispensável no exercício físico, não só antes e depois do treino, mas em todas refeições ao longo do dia, para que possamos maximizar os resultados do mesmo. O consumo de uma boa quantidade de proteína é fundamental em todas as refeições quer numa perspetiva de saciedade precoce, quer de manutenção/aumento de massa muscular.

Nos últimos anos, muitos são os praticantes de desporto e frequentadores de ginásio que aderiram à moda das whey protein (proteína do soro do leite), no seguimento de vários estudos que confirmam que a proteína láctea de facto é a melhor quando falamos de síntese de massa muscular. Uma das vantagens do consumo de whey é a sua praticidade e facilidade de atingir as célebres 20 gramas de proteína que podem garantir sensivelmente a quantidade suficiente para maximizar a síntese de massa muscular.

Hoje em dia existem também opções de leites enriquecidos em proteína no mercado que já atingem essas quantidades por embalagem com duas vantagens: um aporte micronutricional maior (uma vez que o leite também é uma boa fonte de cálcio, fósforo, vitamina b12, potássio e vitamina b2), e uma atuação mais prolongada uma vez que a caseína (a outra proteína do leite para além da whey) possui uma velocidade de atuação mais lenta possibilitando que o nível de aminoácidos em circulação se mantenha elevado durante mais tempo, sendo esta combinação de proteínas láteas tão eficaz como apenas a whey  na síntese de massa muscular.

Também numa ótica de reidratação o leite consegue ser uma opção tão ou mais eficaz do que outras bebidas desportivas pois alia a sua quantidade de eletrólitos e hidratos de carbono a uma proteína de alta qualidade promovendo os chamados três “R’s” da recuperação pós-treino:

- “R”ecuperação de glicogénio (hidratos de carbono) muscular

- “R”eparação dos danos musculares pela sua quantidade de proteína

- “R”eidratação pela sua quantidade de água e eletrólitos.

É assim uma excelente base para batidos onde podem depois ser acrescentados outros ingredientes promotores de uma recuperação muscular eficaz, como a fruta (sobretudo frutos vermelhos), cereais integrais (aveia ou trigo integral) e eventualmente alguns suplementos que podem ser efectivos nesse processo como a creatina ou ómega 3.  

O leite pode não estar tão na moda como estão os suplementos proteicos em forma de pó, barras, muffins e afins, mas igualando a quantidade de proteína em cada porção, tem uma ação igualmente eficaz e com as mais valias de micronutrientes atrás faladas.

Em http://bit.ly/PedroCarvalho_SAPO

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Pedro Graça

O nutricionista Pedro Graça alerta para os perigos de retirar o leite da alimentação de quem não tem intolerância à lactose sob risco de ficarem intolerantes, deixando um apelo aos pais para que tenham especial cuidado com as crianças.

O  consumo de produtos sem lactose tem vindo a aumentar nos últimos anos, mas o diretor da Faculdade de Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto adverte para os  riscos de eliminar a lactose, principal açúcar do leite, da alimentação.

Pedro Graça explica que a digestão da lactose necessita de uma enzima que está no intestino (lactase) que pode deixar de ser fabricada e até desaparecer se deixar de ser estimulada. Uma situação que pode acontecer quando se abandona totalmente o consumo de produtos lácteos.

Perante este risco, o nutricionista deixa um alerta dirigido aos pais:  "Nunca retirar o leite da alimentação de uma criança sem ter a certeza que é intolerante à lactose", através de confirmação médica.

"Como a criança tem aparentemente sintomas, como diarreias, náuseas, flatulência, inchaço abdominal, que também podem acontecer por outros alimentos, e começa a associar-se isso ao leite - ou porque não gosta de leite -, os pais, com medo, pensam que a criança é intolerante à lactose, não fazem uma verificação adequada e, de repente, começam a retirar todos os produtos lácteos" da alimentação, descreveu.

Uma criança que deixe de beber leite durante muitos anos, "um dia quando quiser voltar a beber pode já não ter essa enzima", advertiu o ex-diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde.

Sobre as vantagens ou não no consumo de leite, o nutricionista afirmou que  "não há nenhum aconselhamento médico que, nos dias que correm, faça ou sugira que as populações devam reduzir o consumo de leite".

"A mais recente informação científica que temos é que não existe nenhuma relação entre o consumo regular do leite e o aumento da mortalidade. Inclusive temos alguma informação que o consumo regular de leite, nomeadamente meio gordo ou magro, pode reduzir o risco do aparecimento de algumas doenças", sublinhou Pedro Graça.

Por outro lado, do ponto vista nutricional,  "um a dois copos de leite por dia permitem de uma forma muito adequada equilibrar o estado nutricional de um indivíduo de uma forma muito barata e fácil".
"Portanto, não há nenhum motivo, nem médico, nem económico para as pessoas substituírem o leite por outros produtos, muitos deles produzidos longe de Portugal com grandes impactos sobre o ambiente", sublinhou.
 
Pedro Graça ressalvou que algumas pessoas optam por não beber leite por razões ideológicas, uma decisão que merece todo o seu respeito.

 
Artigo Lusa in http://bit.ly/PedroGracaSIC
04 de março de 2019